sábado, 12 de setembro de 2009

Benzimento


Benzimento é uma prática muito antiga, benzer significa tornar bento ou santo.

É uma prática comum a muitas culturas, mas no Brasil ganhou força no período da colonização junto aos imigrantes. Os próprios índios já estabelecidos praticavam seus rituais de cura dentro de um conjunto de orações no seu próprio dialeto.

O benzimento atendia as necessidades mais precárias da população onde o acesso a um médico era muito restrito.

O benzimento se dá no conjunto de rezas, na formulação de garrafadas, seja de proteção ou de dosagem. Existem benzimentos para proteção de casas, crianças, proteção do corpo e do espírito.

Para um bom benzimento não existe hora nem lugar, nem o dia, nem a lua, o que importa é a força que o bento usa na expressão e aplicação do verbo, pois benzer é fazer um jogo de palavras com poder de ação no etéreo e no físico.

O benzimento se aprende dentro de uma tradição na qual quem sabe e foi preparado ensina quem precisa, independente da crença ou religião.

Fonte: Jorge Scriptori, sacerdote de Umbanda.

Brasil e Umbanda

A história da Umbanda conta a história do Brasil.


Ao chegar a lua em 1969 Neil Armstrong fincou a bandeira norte americana em solo lunar.
Ao chegar ao Brasil em 1500 Cabral mandou rezar a primeira missa e logo após foi fincada uma cruz em solo brasileiro.
Esses dois atos tem seu significado e sua simbologia.
O primeiro: demonstra a "supremacia" norte americana na corrida espacial.
O segundo: a posse da terra em nome do rei de Portugal e da santa fé católica.
Ao se pensar a história do Brasil e o seu dito "descobrimento" , é preciso manter em mente que já havia um grande número de pessoas habitando essas terras, e quão pouco conhecemos sobre esses habitantes originais do país que chamamos de Brasil, e que através de uma construção ideológica convencionou-se chamá-los de índios que na verdade não são, são Tupis são Yanomáis são Tapajós, ou seja, várias etnias e identidades que foram generalizadas no termo índio, por acidente de navegação. Depois vieram os negros, que na verdade eram Bantus, Sudaneses, Yorubás, Haussas, Bornos, Baribas, que arrancados do seu continente de origem, a África, se tranformaram na viga mestra da construção deste país. E por fim, vieram os imigrantes italianos, espanhóis, etc...
Assim, se formou esse imenso caldeirão, étnico que é o Brasil.
Agora o maravilhoso mesmo desta história, é o surgimento da Umbanda, que traz no seu bojo também a história de resistência desses povos. Para além da prática da caridade, o que vemos num terreiro de Umbanda é também a manifestação cultural de diversos povos. As evidências mais claras dessa resistência são as manifestações de caboclos e preto-velhos. Adentrar um terreiro é percorrer os corredores da nossa história.
Consultar um caboclo, um preto-velho, um baiano, um boiadeiro, um cigano, um exú, é mergulhar de corpo e alma nesse caldeirão. É estar em contato com a rica mitologia africana através dos orixás e da indígena através dos caboclos e seus deuses. A trajetória da Umbanda desde o seu surgimento marcada por perseguições, preconceitos, marginalizações, no início do século passado demonstra também a resistência desses povos, sua contribuição para a formação da sociedade brasileira.
Politicamente o Brasil pode estar longe de ser uma democracia racial, mas religiosamente, através da Umbanda isso pode se tornar uma realidade.
Okê caboclo! Yaô meu Pai! Salve a Bahia! Salve os Orixás!
Saravá!


fonte: Revista de Umbanda - Prof. Laércio, historiador, militante pela Igualdade Racial e Social e Umbandista.

Lição de Vida

O Ferreiro

Um certo ferreiro, após uma juventude cheia de excessos, resolveu entregar sua alma à Deus. Durante muitos anos trabalhou muito e praticou a caridade. Mas, apesar de toda sua dedicação, nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se mais.
Uma tarde, um amigo que o visitava e que se compadecia de sua situação difícil comentou:
- É realmente estranho que justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.
O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Entretanto como não queria deixar o amigo sem resposta, pensou bastante e lhe falou:
- Eu recebo nesta oficina o aço não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isso é feito? Primeiro que aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo é mergulhada na água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. E repito esse processo até conseguir a espada perfeita, uma vez não é suficiente.
O ferreiro deu uma longa pausa, acendeu um cigarro e continuou:
- Ás vezes, o aço que chega em minhas mãos, não consegue aguentar este tratamento, o calor, as marteladas, e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se tornará uma boa lãmina de espada. Então eu simplesmente o coloco no monte de ferro velho que você viu na entrada da oficina.
Mais uma pausa e o ferreiro concluiu:
- Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceito as marteladas que a vida me dá, e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço a Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro velho das almas.

Fonte: revista Umbanda Sagrada.